Reencontre os filmes eliminados de “A Mulher na Janela”
A principal estreia desta semana na Netflix é um filme que todo mundo já viu.
“A Mulher na Janela” recicla elementos convencionais do cinema de suspense, como a personagem feminina isolada e vulnerável, a manipulação mental e a virada na qual um personagem bonzinho vira monstro.
Baseado no best-seller de A.J. Finn, pseudônimo do escritor e editor Daniel Mallory, o filme joga fora um dos recursos mais divertidos do livro: o uso de referências cinematográficas. O universo imaginário de Anna Fox é povoado de filmes, e o romance usa o repertório cinéfilo da protagonista para brincar com a confusão entre fatos e alucinações.
O roteiro pobre de Tracy Letts (que também faz o papel do psiquiatra) descarta o prazer narrativo das referências e reduz “A Mulher na Janela”, o filme, a apenas mais um suspense mequetrefe.
Selecionamos algumas referências cinematográficas citadas em “A Mulher na Janela”, o romance, para quem quiser descobrir (ou redescobrir) os originais.
Confira:
“Vi um filme. Um filme antigo, ressuscitado em Technicolor. Vi ‘Janela Indiscreta’; vi ‘Dublê de Corpo’; vi ‘Blow-up’. Vi uma montagem com centenas de imagens de arquivo de filmes em que sempre havia alguém bisbilhotando a vida dos outros. Vi um assassinato sem assassino e sem vítima. Vi uma sala vazia, um sofá vazio. Vi o que quis ver, o que precisava ver. ‘Você não se sente muito sozinha aqui?’, foi o que Humphrey Bogart perguntou a Lauren Bacall; a ela ou a mim.”
“Janela Indiscreta” : AppleTV – Claro Video – Google Play
“Dublê de Corpo” : AppleTV
“Blow-up” : AppleTV
“Uma Aventura na Martinica” : AppleTV
“A noite vai caindo aos poucos, sombria. Fecho as cortinas, abro o laptop e coloco ao meu lado na cama. A máquina aquece os lençóis à medida que assisto ao filme ‘Charada’. ‘O que eu preciso fazer pra deixar você feliz?’, pergunta Cary Grant. ‘Me tornar a próxima vítima?’ Sinto um calafrio na espinha.”
“Charada” : AppleTV – Belas Artes à la Carte – Claro Video – Google Play
“Mais uma ‘leçon’ de francês hoje e, à noite, ‘Les Diaboliques’. Um marido cafajeste, uma mulher frágil, uma amante, um assassinato, um cadáver desaparecido. Existe coisa melhor do que um cadáver desaparecido?”
As Diabólicas: Belas Artes à la Carte – Oldflix
“Os acontecimentos de ontem à noite parecem os delírios de uma febre, uma nuvem de fumaça. O filme no teto do quarto. O barulho de vidro quebrando. O breu do depósito. A espiral da escada. E ele ali, chamando por mim, esperando por mim.
Levo a mão à garganta. ‘Não vá dizer que eu estava sonhando, que ele nunca esteve aqui.’ Onde foi que ouvi isso…? Ah, sim: de novo, ‘À Meia-Luz’.”
“À Meia-Luz” : AppleTV
“Porque não foi sonho. (“Isto não é sonho! Realmente está acontecendo!” Mia Farrow em ‘O Bebê de Rosemary’.) Minha casa foi invadida. Foi vandalizada. Eu fui ameaçada. Fui agredida. E não há nada que eu possa fazer a respeito.”
“O Bebê de Rosemary” : TeleCine
“Depois que Ethan vai embora, vejo ‘Laura’ outra vez. Um filme que não deveria ter dado certo: a canastrice de Clifton Webb, a pobreza do sotaque sulino de Vincent Price, a falta de química entre os protagonistas. Mas a coisa realmente funciona muito bem. Sem falar na música. Ah, a música… ‘Eles me mandaram o roteiro, não as partituras’, reclamou certa vez Hedy Lamarr, depois de recusar o papel principal. Deixo a vela acesa, um fiapo de chama pulsando no pavio. Depois, cantarolando o tema de ‘Laura’, pego o celular, entro na internet e saio à procura dos meus pacientes.”
“Laura” : Belas Artes à la Carte
“Adorávamos elaborar listas. As adaptações das histórias de Dashiell Hammett, ranqueadas desde a melhor (‘A Ceia dos Acusados’, a primeira delas) até a pior (‘Song of the Thin Man’). Os melhores filmes da excelente safra de 1944. Os melhores momentos de Joseph Cotten.
Também posso fazer algumas listas sozinha, claro. Por exemplo, os melhores filmes de Hitchcock não realizados por Hitchcock. Vamos lá:
‘O Açougueiro’, um dos primeiros filmes de Claude Chabrol que, diz a lenda, Hitch gostaria de ter dirigido.”
“O Açougueiro”: Looke – NetMovies
“Agora os filmes posteriores a Hitchcock: ‘O Silêncio do Lago’, com seu final de tirar o fôlego. ‘Busca Frenética’, a homenagem de Polanski ao mestre. ‘Terapia de Risco’, de Steven Soderbergh, que começa como um libelo contra a farmacologia e vai deslizando feito uma enguia na direção de um gênero completamente diferente.”
“Busca Frenética” : AppleTV
“Terapia de Risco” : AppleTV – Claro Video – HBOGo
“O filme preferido de Hitchcock. Thornton Wilder é o roteirista: a mocinha ingênua descobre que seu herói não é quem ela pensa ser. ‘A gente até que se dá bem, mas nada acontece’, reclama ela. ‘Caímos numa rotina terrível. Comemos e dormimos, e isso é praticamente tudo. Sequer temos uma conversa de verdade.’ Até o dia em que seu tio Charlie aparece para uma visitinha.”
“A Sombra de uma Dúvida” : Looke
Confira na lista “A Mulher (Cinéfila) na Janela” todos os filmes citados no romance.
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