Curta indicado ao Oscar usa repetição para expor o racismo

No longínquo 1993, “Feitiço do Tempo” foi considerado um filme original ao explorar o paradoxo da repetição em uma camada da vida, o tempo, em que tudo parece condenado a não voltar.

 

Sinal dos tempos, nos anos recentes apareceram várias ficções nas quais personagens ficam presos numa lógica perversa de repetições. Do terror à comédia, passando pelo drama adolescente e pela animação, a ideia de não conseguir escapar de uma situação dá corpo ao medo, que todo mundo tem, de não conseguir superar um incômodo.

 

“Dois Estranhos” pode parecer só mais um produto dessa ondinha. Mas o curta de Travon Free e Martin Desmond Roe vai além da repetição da fórmula. O filme de 32 minutos, que concorre ao Oscar de melhor curta, mostra uma série de situações protagonizadas por Carter, um cartunista negro.

 

Ao final de uma noite gostosa ao lado de uma garota linda, Carter volta para casa para cuidar do seu cão que ficou sozinho. Ao sair do prédio dela, ele é interpelado por um policial e logo a situação sai do controle.

 

A repetição aqui deixa de ser um mero recurso narrativo e se torna um recurso de denúncia, uma demonstração que o racismo é uma situação banal, que se repete infinitamente e que ser vítima de preconceito racial equivale a uma condenação.

 

Travis Free, roteirista e co-diretor de “Dois Estranhos”, evoca uma experiência pessoal como inspiração. “Como um homem negro, eu experimentei e vi uma quantidade enorme de mortes e de violência armada. Já tive a arma de um policial apontada para minha cara. Fiquei olhando para o cano de uma arma da polícia e isso não é algo que todo mundo sentiu ou deveria experimentar.”

 

“Dois Estranhos”

Direção: Travis Free e Martin Desmond Rae

EUA, 2020, 32 min

Onde assistir: Netflix

 

 
Confira outros ficções recentes baseadas em repetições temporais:

 

“No Limite do Amanhã” (2014)

Tom Cruise é um soldado inexperiente que morre no primeiro combate e é condenado a repetir exaustivamente a experiência de lutar e não sobreviver.

Onde assistir: AppleTV –  LookeMicrosoft StoreNetflix

 

“Antes que Eu Vá” (2017)

Sam tem uma vida legal e mal sabe que tudo pode acabar de uma hora para outra. Mas ela tem uma última chance para mudar o destino.

Onde assistir: AppleTVGoogle PlayLookeMicrosoft StoreNowTeleCine

 

“Loopeados” (2015)

Nesta série de animação, Luc e seu amigão Theo ficam presos numa armadilha temporal em que todo dia é segunda-feira.

Onde assistir: Globo Play

 


“Nu” (2017)

No dia do seu casamento, Ron fica preso, peladão, no elevador e tem de enfrentar a repetição de diversos vexames.

Onde assistir: Netflix

 

“A Morte Te Dá Parabéns” (2017)

Uma jovem morre assassinada e revive incessantemente cada passo da história que sabe que acaba mal.

Onde assistir: AppleTVClaro VídeoGoogle PlayLooke

 

“A Morte Te Dá Parabéns 2” (2019)

Como tudo que é ruim nunca acontece uma vez só, esta sequela do terror de 2017 repete a premissa.

Onde assistir: Amazon Prime VideoAppleTVGoogle PlayLooke

 

“O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas” (2021)

Mark conhece Margaret são dois adolescentes que ficam presos numa temporalidade repetitiva. Ele quer sair, e ela quer ficar.

Onde assistir: Amazon Prime Video

 

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