2021 começa forte com primeiros filmes
O primeiro filme pode ser como um bebê. O longa de estreia carrega o material genético da obra futura, delimita temas e exibe um modo próprio de contar histórias e de se interessar por certos tipos de personagens. Em muitos casos, o primeiro filme não se confunde com um esboço. É, de fato, um programa.
Exemplos? “Cidadão Kane”, que Welles dirigiu aos 26. “Os Incompreendidos”, que Truffaut filmou aos 27. “Acossado”, que Godard realizou aos 30. “Encurralado”, longa de estreia de Spielberg aos 25. “Seguinte”, estreia de Nolan aos 28.
Uma seleção de nove primeiros filmes é o destaque deste início de ano na programação do Mubi.
Como uma mulher italiana em um país de tradição machista abordou pela primeira vez o tema da fragilidade masculina que ecoa em seus longas seguintes?
Como uma realizadora alemã, cuja obra se diferencia por um agudo senso da forma, inaugurou suas crônicas da solidão e do desespero silencioso?
Como o mais importante cineasta chinês contemporâneo acompanha a perambulação de um batedor de carteiras para iniciar o registro implacável das mutações da China na cabeça dos chineses?
Os longas de estreia de Lina Wertmüller, Angela Schanelec e Jia Zhang-ke apontam o rumo que os filmes posteriores desses realizadores expandiram, revisaram ou aprofundaram.
As complexidades que o canadense Denis Villeneuve injetou em imensas máquinas de guerra como “Blade Runner 2049” (2017) e “Duna” (2021) já se apresentam em modo certamente menor, mas não pouco ambicioso, em seu primeiro longa, de 1998.
A perda de pertencimento entre personagens e lugares e o esfacelamento do vínculo entre indivíduos e cultura estão postos de cara no longa de estreia do turco Nuri Bilge Ceylan, um dos mais fascinantes estetas do cinema contemporâneo.
O que distingue o primeiro filme de Lina Wertmüller, cineasta quase solitária no mundo masculino dos anos 1960, das estreias, em tempos mais evoluídos, da alemã Angela Schanelec, da britânica Joanna Hogg, e da francesa Mia Hansen-Løve?
Veja os títulos programados no ciclo e o período de exibição:
Lina Wertmüller, Itália, 1963
Em exibição até 1/2
Nuri Bilge Ceylan, Turquia, 19977
Em exibição até 3/2
Angela Schanelec, Alemanha, 1995
Em exibição até 4/2
Denis Villeneuve
Canadá, 1998
Em exibição até 5/2
Mia Hansen-Løve
França, 2007
Em exibição de 7/1 a 6/2
Abderrahmane Sissako
Mali/Mauritânia/França, 1998
Em exibição de 8/1 a 7/2
Jia Zhang-ke
China, 1998
Em exibição de 9/1 a 8/2
Joanna Hogg
Reino Unido, 2007
Disponível no acervo permanente
Whit Stillman
EUA, 1980
Disponível no acervo permanente
Já que estamos falando da estreia de diretores cujas qualidades foram confirmadas depois, confira também:
“Caramelo” (2007)
O primeiro longa da libanesa Nadine Labaki enfoca, com imensa afetividade, o cotidiano das frequentadoras de um salão de beleza em Beirute. O mote permite retratar, de fato, as grandes diferenças no que chamamos, genericamente, de “condição feminina”.
Onde assistir: Belas Artes à la Carte
Da mesma diretora:
“Cafarnaum” (2018)
Esta visão do cotidiano infernal de um garoto de 12 anos foi um dos cinco finalistas na corrida ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2019 e venceu o Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2018. O filme também integra o levantamento, feito pela BBC, de 100 melhores filmes dirigidos por mulheres.
Onde assistir: HBO Go
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