O cinema morreu? Viva o cinema!
Há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante, um dos criadores de uma engenhoca chamada cinematógrafo decretou que aquela era uma invenção sem futuro. Mais de um século depois, as viúvas lamentam a enésima morte do cinema, desta vez provocada pelo fechamento das salas por razões sanitárias. As salas estão reabrindo, mas o público retornará em meio à crise econômica e ao temor de contaminação?
Entre 1895 e 2020 o cinema morreu e renasceu inúmeras vezes. Seu fim –ou sua modificação fatal– foi anunciado com a introdução do som, na década de 1920, com a concorrência da TV, nos anos 1950, com o videocassete, nos anos 1980, e com a ascensão do streaming, dez anos atrás.
O cineasta italiano Michelangelo Antonioni, um nome nada suspeito de cumplicidade com a sede de lucros da indústria, respondeu desse modo no documentário “Quarto 666” (Wim Wenders, 1982, ao ser indagado sobre a “morte do cinema”
“É muito difícil falar sobre o futuro do cinema. Provavelmente, em grande escala, o videocassete vai levar o cinema para dentro dos lares e, com a fita magnética de alta definição, teremos o cinema em casa. Não precisaremos mais ir ao cinema. Todas as estruturas atuais irão desaparecer. Não será tão fácil nem tão rápido assim, mas vai acontecer. As mudanças são inevitáveis e só temos uma coisa a fazer: nos adaptar.”
Quatro décadas mais tarde, o que temos é não apenas um número incalculável de filmes, efeito, em grande parte, das facilidades oferecidas pelas tecnologias digitais, mas também uma amplificação das formas de acesso e de consumo dessa gigantesca produção audiovisual.
Se a interrupção forçada da programação das salas de cinema pode levar à quebra do circuito tradicional de exibição, o que vem acontecendo mundo afora desde o início da pandemia é outro modo de disponibilizar e de consumir filmes, forçando uma reordenação da economia do sistema.
Isso indica que não estamos em meio a mais uma “morte do cinema”, mas, sim, de uma amplificação do processo de reinvenção do cinema iniciado no final dos anos 1990.
Além das plataformas de streaming para assinantes, a oferta de títulos em VOD (basicamente, um aluguel avulso) e o formato de exibição online adotado por festivais de todos os portes avançou, nos últimos meses, em um ritmo muito mais intenso do que temiam os apocalípticos de plantão.
O blog Histórias de Cinema nasce para acompanhar essas transformações. Nosso principal objetivo é oferecer âncoras que auxiliem o leitor a não naufragar no oceano da hiperinformação.
Quem nunca se queixou de perder mais tempo escolhendo o que ver do que vendo? Quem não gostaria de ser surpreendido por um título diferente do arroz com feijão que os algoritmos servem?
Quem não curtiria descobrir, soterrado sob tanto lixo, aquele filme que o povo comentou, mas você não conseguiu ver no cinema. E quem vive em cidades onde só chegam os filmes de super-herói, mas experimentaria outras opções?
Além de indicar, nossa meta é organizar, estimular descobertas, propor o inesperado, brincar com as categorias e escapar da ditadura do mesmo.
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